Por mais descoordenação motora que alguém com paralisia cerebral tenha, há atos que é melhor fazer por si próprio do que com ajuda dos outros. Um exemplo é subir numa rede, algo muito comum no Nordeste: quando o faço sozinho não tem risco algum, mas se outra pessoa ajuda há o perigo de eu cair para trás e bater a cabeça no chão. E se recusar o auxílio, fico parecendo chato, orgulhoso em excesso, etc.

Uma extensão disso é fazer em meu lugar tarefas para as quais tenho coordenação suficiente para assumir com facilidade. De vez em quando Silvia tem tal atitude, porque me ver as desempenhando fere seu complexo de Mulher Maravilha, ou toma como uma crítica implícita ou só para me provocar. Nunca me queixei a esse respeito mas, semanas atrás, quando eu estava guardando bonecos de pano ou pelúcia das meninas ela se adiantou, terminou de faze-lo, me irritei – embora mais porque a situação de fundo já era tensa – e reclamei.

É cada vez mais frequente Silvia pedir, falar, ordenar algo às meninas e estas só atenderem, obedecerem se o faço – ora isso me irrita porque é um desrespeito à mãe, ora me desconcerta tanto que rio. A própria Silvia, quando a empregada avisa que a comida está pronta, às vezes só se levanta para almoçar quando a chamo. Essa questão de ser autoridade na família é um tema recorrente deste blog porque, dada minha dependência física e econômica, dava como certo que não a teria. E tal papel ainda vai contra minha natureza, muitas vezes fico enrolando, me furtando a exerce-lo.

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