Minha atitude com a beleza do meu rosto sempre foi contraditória: a via no espelho ao mesmo tempo que internalizava o preconceito de que quem tem paralisia cerebral é necessariamente feio e, às vezes, ficava me autodepreciando em frente daquele – me chamava de macaco, p. ex. Pensava que era incapaz de ter mulheres bonitas, a maioria das namoradas que tive não o era e a falta de atração física me levava a acabar tais relacionamentos, embora nem sempre fosse o único motivo. Namorar mulheres feias fazia me sentir um lixo como homem – e ser considerado assim, o que percebi no namoro com uma gaúcha loira e linda, pois, ao me verem com esta, a diferença na atitude dos outros (inclusive minha mãe) foi gritante.

As duas mulheres lindas que se interessaram por mim (desconsiderando as que não chegaram às vias de fato), Silvia e essa gaúcha, também são inteligentes, cultas, gostam de ler, estudar, entre outras características que me atraem. Portanto, não tenho certeza total sobre a importância que a beleza feminina tem para mim, mas acho que é fundamental, como na cruel e conhecida frase de Vinicius de Morais – eu não conseguiria ficar muito tempo com uma mulher que não fosse muito bonita, que não me desse atração física (e bem que tentei).

Na época em que publiquei meu site, tirar uma foto e publicar na Internet demorava e dava trabalho, em cada cem eu só ficava bem em uma – nas outras, saia horroroso – e tive de escolher a dedo as que colocar nele; mas também sempre me recusei a maquiar fotos, de modo que as mulheres que iam a Recife encontravam o que já tinham visto. Ainda bem que aquele preconceito não acabou completamente com minha vaidade, pois a beleza mostrada nas fotos era um dos fatores para o site desencadear o interesse das mulheres por mim. De fato, recentemente Silvia disse que só queria namorar homens que tivessem uma beleza meio rústica, cujos rostos não tivessem traços muito delicados, os e-mails que eu enviava para a lista de discussão onde nos conhecemos chamaram sua atenção, foi ao site e sentiu-se atraída porque me achou bonito. Foi desconcertante ver de novo que a frase de Vinicius também aplicou-se a mim porque, no fundo, ainda tenho dificuldade de acreditar que sou bonito.

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