O amadurecimento de pessoas com paralisia cerebral pode ser severamente limitado, até totalmente bloqueado, pela família e, em especial, a mãe devido à superproteção – o principal motivo –, dúvidas quanto à sua cognição e seu equilíbrio psíquico, dificuldades psicológicas dos familiares, etc. Vou ilustrar tal questão com a manutenção da minha saúde, mas poderia dar muitos outros exemplos.

Nas crises de asma e outros problemas respiratórios na infância e na adolescência, minha mãe me salvou a vida inúmeras vezes. Isso gerou uma excessiva autoconfiança quanto à sua habilidade de manter saudáveis os filhos, traumatizou-a e meu sistema cardiorrespiratório foi se tornando seu foco quase exclusivo como se problemas em outras partes do meu corpo não pudessem ser graves, tudo agravado por crenças erradas sobre saúde. Em 1981, as doenças respiratórias começaram a diminuir drasticamente graças à natação, em 1988 quase morri afogado num clube (não era onde nadava regularmente), eu saia da piscina – que não era coberta nem aquecida – com a ponta dos dedos arroxeada, ela apresentou problemas circulatórios, cismou que eu também os tinha apesar de insistir que a causa da cianose era o frio, passou a me dá seus três remédios para circulação e, embora já tivesse 24 anos, demorei muito para me recusar a toma-los, como um menino que não sabia confrontar a mãe. Em seguida, ela me tirou da natação sub-repticiamente sem grande oposição minha e, até voltar em 2005, essas doenças recrudesceram. Na primeira gastrite que tive, em 1998, demorei 24 horas para convencê-la a me levar a uma emergência hospitalar e só consegui ao vomitar sangue. Foi apenas em torno de 2010, já com 46 anos, que tive a atitude de “cuido da minha saúde” e então passamos a brigar por essa causa, embora dissesse que ela não poderia saber o que acontecia no meu corpo mais do que eu mesmo – no fim, para reduzir os atritos simplesmente ignorava o que ela dizia a respeito. Não tem nexo responsabiliza-la por tais incidentes, pois todos ocorreram quando eu já era adulto.

Uma namorada virtual me contou que, ao estagiar numa clínica de reabilitação, conheceu um rapaz de 17 anos, com paralisia cerebral sem deficiência cognitiva, que ainda usava fraldas porque a família o achava incapaz de aprender a controlar os esfíncteres. Não cheguei a tanto, talvez porque meu pai se preocupava em reduzir minha dependência, eu ter muita autocrítica, sei lá mais o quê. Quem ler este blog, sabe que moro a 3000km da família, casei e tenho uma filha, deve pensar que represento o oposto desse rapaz. Não foi o caso, meu amadurecimento se arrastou demais, frequentemente eu era um babaca.

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