Era de se esperar que pudesse ter ciúmes de Silvia – e tive umas poucas vezes –, mas é o inverso que ocorre. Para mim, seu ciúme é desconcertante, de difícil compreensão, às vezes até sem nexo e foi um problema sério no início do nosso relacionamento – hoje, é um motivo de riso.

No último sábado, fomos ao show dos Paralamas do Sucesso e, ao acabar de me aprontar, Silvia brincou que estava vestido como um gay. Após o fim do show, resolvemos tentar tirar fotos com a banda – depois desistimos disso porque estava demorando demais –, no trajeto para o camarim uma mulher me disse algo como “gostou do show, né? Dê um beijo nele (em Herbert Vianna)”, como só prestei atenção à segunda frase pensei “devo mesmo estar parecendo um gay” ou que esta imaginou que tenho déficit cognitivo, mas Silvia cismou que a figura estivesse se insinuando para mim, pela forma com que falou. Mesmo no dia seguinte achei que Silvia estava brincando de novo, mas falava a sério, teimei que não era uma insinuação até que atinei que estávamos num evento em que, por Herbert ter uma paraplegia, dificilmente alguém pensaria que um cadeirante tem tal déficit e o modo de se vestir tem pouca relação com a orientação sexual – ainda assim, reluto em crer que a figura estivesse “de olho” em mim.

Esse episódio me lembrou que, no início do nosso primeiro encontro, fomos a um bar dançante, pedi que meu irmão – um homem bonito – me levasse para urinar, ao atravessarmos a pista de dança uma mulher disse “que gato!”, nem levantei a cabeça para saber quem falou supondo que era com ele que, no banheiro, insistiu que foi comigo. Talvez o ciúme de Silvia não seja tão infundado quanto imagino.

Contradição de um ser humano: sou seguro o suficiente para ter pouco ciúme das mulheres com quem me relaciono, mesmo que sejam lindas e interessantes, mas tenho uma enorme dificuldade de acreditar que posso atrair o interesse de outras quando saio.

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